domingo, 13 de março de 2022

Picuinhas - Olavo de Carvalho

 “O que me pergunto com freqüência é se é lícito, se é pelo menos razoável, um católico ficar procurando um perfeito critério católico de conduta para cada novo problema mínimo que a mudança dos tempos nos coloca, em vez de ater­‑se a buscar a perfeição nos pontos fundamentais já firmemente estabelecidos há séculos ou milênios. 


É lícito fumar? É lícito jogar joguinhos de computador? É lícito dizer palavrões? É lícito seguir a escola austríaca de economia? É lícito coçar o saco? Não tenho e não desejo regras católicas para decidir sobre esses assuntos enquanto não estiver seguro de que já estou cumprindo os dois mandamentos supremos: amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a mim mesmo. Quando chegar a esse ponto, começarei a pensar nos detalhes novos. 


Já sei, já sei, isso é discutível. Mas é realmente sensato querer discutir tudo o que é discutível? Não é melhor buscar o essencial primeiro? 


Já vi, por exemplo, pessoas incapazes de renunciar ao vício da maledicência fazerem belos discursos morais contra o fumo ou contra os palavrões. Para mim isso é inversão das proporções. E, como o amor a Deus é impossível sem o senso das proporções (“acima” é uma noção escalar), essa inversão viola claramente o Primeiro Mandamento. 


Dar importância a picuinhas é desprezar a ordem hierárquica da existência, a qual ordem é o próprio Logos, o próprio Jesus. 


Muita gente pensa que “a carne” só tem a ver com sexo. A carne é todo o mundo das sensações imediatas. É mais fácil controlar o impulso sexual do que a atração hipnótica das picuinhas. 


Tenho uma oração que eu mesmo inventei e que rezo com freqüência: “Senhor Jesus Cristo, guia­‑me pelo Divino Espírito Santo sem que eu o perceba, porque se perceber posso interferir e estragar tudo.”


Olavo de Carvalho, no livro “Diário Filosófico - Volume 1”.

https://videeditorial.com.br/diario-filosofico-volume-1


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