domingo, 5 de agosto de 2012

PIAGET, VYGOTSKY E A APRENDIZAGEM

RESUMO

Este artigo apresenta o processo de aprendizagem segundo Piaget e Vygotsky e as contribuições psicopedagógicas a aprendizagem.

Palavras-chaves: Aprendizagem. Piaget. Vygotsky. Psicopedagogia

INTRODUÇÃO
Dentro da Psicologia da Aprendizagem encontramos várias teorias que nos ajudam em determinadas situações e sujeitos. Cada pessoa aprende de uma forma e é tarefa do psicopedagogo descobrir como cada ser aprende.
Somos como pescadores e nossas teorias são como redes. E não deixamos de lado de bom grado as redes com as quais algumas vezes pescamos pelo mero fato de que não servem para certos peixes ou em determinado mares,mas continuamente inventamos e tecemos novas redes e distintas e as lançamos à água, para ver o que pescamos com elas. Não desprezamos rede alguma e em nenhum confiamos excessivamente,ainda que prefiramos carregar o barco com as redes mais eficazes e deixar no porto as de menos uso. E assim vamos navegando, renovando continuamente nosso arsenal de redes em função das características da pesca. ( Mosterin, 1987, p.85)
Por isso se faz necessário que ele conheça e domine as diversas teorias para que desenvolva o trabalho satisfatório. Neste artigo será tratado sobre a visão de dois grandes nomes, Piaget e Vygotsky, sobre como ocorre a aprendizagem.

PIAGET, VYGOTSKY E A APRENDIZAGEM
O Suiço Jean Piaget (1896-1980) deu uma enorme contribuição à pedagogia, embora não fosse seu objetivo ser um pedagogo. Piaget em sua epistemologia, rejeita a teoria de idéias, defendidas no passado por filósofos como Platão, Descartes, Leibniz, etc., afirmando que todo o conhecimento deriva da experiência, transformando o sujeito em simples produto do meio. Ora, a mente é um órgão vivo e ativo, que elabora o conhecimento a partir de esquemas inatos e não de idéias inatas. Ele sofre influência da biologia. E uma dessas influências é o conceito de estrutura: uma estrutura é uma inter-correlação das partes dentro de um todo com a finalidade de exercer determinada atividade. Uma estrutura é um sistema de transformação que comporta leis enquanto sistema e que se conserva e se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações, sem que estas ultrapassem suas fronteiras ou recorrem a elementos exteriores ( Piaget, 1971,p31).
Todo o organismo ou ser vivo precisa de estrutura para funcionar, para se reproduzir, para perpetuar. Do mesmo modo, nossa vida psicológica possui também suas estruturas para poder viver, para se adaptar à realidade. No processo de inteiração entre estrutura e meio, algo é sempre acrescentado à estrutura, como o meio pode ser modificado. Esta relação entre estrutura e meio é o que denominamos genericamente de conhecimento ou cognição – assimilação e acomodação .
Em suma, o processo de adaptação de um organismo ao meio requer assimilação e acomodação constantemente, que é um processo permanente da auto-regulação feita pelo sujeito, ao longo de seu desenvolvimento. Este processo de desenvolvimento do organismo foi estudado dividido por Piaget em períodos, os quais foram subdivididos em estágios, conforme a idade da criança:
1-Período das Operações Sensório-Motoras – Este período foi dividido em seis estágios e vai do nascimento até 8 anos. São eles: a) O uso dos reflexos; b)Primeiras adaptações e reações circulares primárias; c) Reações circulares secundárias; d) Coordenação dos esquemas secundários e sua aplicação a novas situações; e) Revolução terciária e a descoberta de novos significados por meio de experimentação ativa; f) Invenção de novos meios através de combinações mentais.
2-Período das Operações Concretas – Este período vai dos 2 aos 11/12 anos e se subdivide em: a) Período Pré- Operacional: Compreende dois estágios * Pré Conceitual – (de 2 a 4 anos) a criança opera no nível da representação simbólica, o que é constatado na imitação, na memória, no desenho, no sonho, na linguagem , etc. Existe muito presente o sentimento mágico da onipotência e o pensamento egocêntrico. * Pré-Lógico ou intuitivo – ( de 4anos 7 anos) – aparece o raciocínio pré-lógico, baseado em experiências perceptuais. Com ensaios e erros, pode chegar intuitivamente à compreensão das relações corretas entre coisas, mas só pode considerar um atributo por cada vez.
3-Período das Operações Formais – Este período vai dos 12 anos à idade adulta. Em algum ponto, dos 11 aos 12 anos, a criança aprende a raciocinar logicamente sobre posições, coisas e propriedades abstratas. É o último período de desenvolvimento, mas existem adultos que nunca o atinge plenamente.
Critica-se Piaget por ter desprezado o papel do meio sócio- cultural no desenvolvimento cognitivo da criança. Evidentemente que esses autores se baseiam nas primeiras obras publicadas por Piaget, Ora, Yves de La Taille afirma que tal crítica não é de todo fundada. E aponta o livro de Piaget “Biologia e Conhecimento” como uma resposta a seus críticos, onde Piaget diz que a inteligência humana se desenvolve no indivíduo somente dentro da inteirações sociais em geral. Neste mesmo livro, Piaget diz que a questão das influências sociais passa por dois momentos: 1) a definição de que se deve entender por ser social e 2) a verificação de como os fatores sociais contribuem para explicar o desenvolvimento intelectual, isto é, o processo de socialização. Por fim, Piaget no livro “ O juízo moral da criança”, complementa a questão das influências sociais na formação da criança como ser cooperativo, social. É a questão ética como valor superior da sociedade.
Vygotsky(1896-1934) é um interacionista, assim como Piaget. Contudo, enquanto este enfatiza o desenvolvimento das estruturas cognitivas como os requisitos fundamentais para a aprendizagem, Vygotsky destaca a influência do meio ambiente, ou seja, da história, da cultura e da sociedade de uma pessoa como os elementos mediadores por meio dos quais ocorre sua aprendizagem (Fioravante-Tristão2010).
Para Vygotsky, a medida que o individuo se relaciona com o ambiente é que ele vai aprendendo, modificando seu comportamento e orientando o desenvolvimento do pensamento.
Este processo leva a transformação das funções psicológicas elementares em superiores através da linguagem, que desde o nascimento reflete como a criança percebe o mundo, permite a comunicação, organiza e medeia a conduta, expressa o pensamento e ressalta a importância reguladora dos fatores culturais existentes nas relações sociais(João Carlos Martins). A vontade é a principal responsável pelo desenvolvimento da função psicológica superior.
Vygostsky fala que juntos, pensamento e linguagem, criam condições para o desenvolvimento do pensamento lingüístico e da fala intelectual. Por isso é necessário que a criança tenha contato com pessoas mais experientes para adquirir e ampliar a linguagem e possibilitar que ela interprete situações ou fatos a partir da sua própria experiência. Fazendo este caminho o sujeito aprende a resolver seus conflitos.
Vygtsky entende que o desenvolvimento é fruto de uma grande influência das experiências do individuo. Mas cada um dá um significado particular a essas vivencias. O jeito de cada um apreender o mundo é individual. Para ele desenvolvimento e aprendizado estão ligados: nós só nos desenvolvemos se (e quando) aprendemos.
O desenvolvimento não depende apenas da maturação, mas resulta dos aprendizados que tiver ao longo da vida dentro de seu grupo cultural.
CONCLUSÃO
Piaget e Vygotsky entenderam o conhecimento como adaptação e como construção individual e concordaram que a aprendizagem e o desenvolvimento são autorregulados.
Ambos viram o desenvolvimento e a aprendizagem da criança como participativa, não ocorrendo de maneira automática.
Piaget estava interessado em como o conhecimento é construído; sua teoria é um acontecimento da invenção ou construção que ocorre na mente do indivíduo e Vygotsky estava interessado na questão de como os fatores sociais e culturais influenciam e determinam a aprendizagem.
Embora ambos considerassem o conhecimento como uma construção individual; para Vygotsky toda construção é mediada pelos fatores externos (social).
O professor será o agente mediador, fundamental, desse processo. A criança constrói seu próprio conhecimento internalizando a partir do que é oferecido.
A sociedade permite o processo de transmissão da cultura e os educadores são os facilitadores, mediadores. E óbvio que o professor é indispensável no sentido de criar situações que auxiliam á criança em seu processo de conhecer. O desejado é que o mediador deixe de ser um mero expositor satisfeito em transmitir soluções prontas. Ele deve estimular o sujeito á iniciativa e curiosidade.
A diferença mais nítida entre os teóricos é referente ao papel da linguagem no desenvolvimento intelectual
Vygotsky trata a aquisição da linguagem do meio social como resultado entre raciocínio e pensamento em nível intelectual.
A interação e a linguagem tem um importante destaque para Vygotsky, uma vez que irão contribuir no desenvolvimento dos processos psicológicos. Significados linguisticamente criados criam significados sociais compartilhados.
Enquanto para Piaget o conhecimento se dá a partir do sujeito sobre a realidade, ser ativo, para Vygotsky o sujeito é ativo e interativo; construindo conhecimento através de relações intra e interpessoais. Para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito. Para Vygotsky a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais superiores.
A contribuição desses teóricos é de fundamental importância para o trabalho do psicopedagogo.
O trabalho do psicopedagogo se dá numa relação entre pessoas. Não é uma relação qualquer, mas um encontro entre educador e educando.
A realidade é co-criada pelos nossos processos de troca e observação, pelas decisões que tomamos a respeito daquilo que escolhemos perceber; ela não existe independente dessas atividades. Portanto, não podemos trazer as pessoas com palavras para nossa versão da realidade, porque, a bem da verdade, nada é real para elas se não tiver sido fruto da sua própria criação.
O olhar e a escuta do profissional psicopedagogo deve ser diferenciado.
Uma postura que se traduz em interesse pessoal e humano, buscando reconhecer as potencialidades, as capacidades e possibilidades do educando.

BIBLIOGRAFIA
MARTINS, João Carlos. Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo. 1997. Disponível em: . Acesso em: 01 de abril de 2012.
Fioravante-Tristão, Daniele Pedrosa – Psicologia da Educação,Pearson Education, 2010.
Teorias do Desenvolvimento Cognitivo – suas contribuições para a psicopedagogia - Autora: Valderina Barroso Barbosa – Fortaleza/2009 Monografia apresentada à Universidade Estadual Vale do Acararu
Piaget, Jean – Epistemologia genética, Petrópolis, Vozes, 1971.
Piaget, Jean – A linguagem e o pensamento da criança, São Paulo, Martins Fontes, 1999
Piaget, Jean – Ensaio de Lógica operatória, Porto Alegre – Globo/São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 1975.
Piaget, Jean – A construção do real na criança, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1970.
Taille, Yves de La /et alii – Piaget, Vigotski, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão, São Paulo, Editora Summus, 1992.

Trabalho do curso de pós-graduação em  Psicopedagogia pela Faculdade Pitágoras/BH
Alunas: Ana Cláudia, Inês, Taline e Mônica

Professor reflexivo

Comentário do texto: Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação docente, de Kenneth M. Zeichner


O texto mostra que houve uma mudança de foco na formação de professores. Passou-se a ver que era necessário que o professor deixasse de transmitir o conhecimento já estabelecido por outros profissionais para ser um sujeito ativo, que participa de todo o processo de ensino; desde estabelecer as finalidades da educação até escolher a melhor maneira de trabalhar com os alunos, passando pela análise das condições sociais e tendo como fim a transformação da sociedade.


Este novo olhar foi possível a partir de pesquisas realizadas na área educacional, principalmente as sobre os saberes dos professores, e a influência das ciências cognitivas e das políticas neoliberais e neoconservadoras na educação.

Apesar da reflexão da prática reflexiva já existir há muito tempo, foi a partir de 1983, com a publicação do livro “O profissional reflexivo” de Donald Shchön, que começou um amplo questionamento sobre o assunto e tornou-se a “bandeira levantada” por vários formadores.

Estas discussões levaram a vários entendimentos do que é uma prática reflexiva. Muitas vezes a reflexão produzida foi usada para manter/reproduzir um currículo ou método já existente.

Para o autor, a verdadeira formação docente reflexiva deve focar nos propósitos e nos meios do ensino, levando em conta as condições sociais, o contexto onde é feito o trabalho, a comunidade docente onde está inserido e principalmente, toda a ação reflexiva do professor deve gerar um engajamento nas lutas por justiça social e pela qualidade na educação para todos, sem distinção.



Uma visão

Devido a história do Brasil, esta mudança por aqui ainda é lenta e acontece de forma isolada. Os cursos de licenciatura, geralmente não conseguem formar este profissional reflexivo.

Vários fatores foram citados no texto-base para justificar que isso ocorra como, a separação da teoria da prática. Destaco aqui, dois fatores que considero importante colocar nesta discussão.

Segundo pesquisa do INAF 2011-2012, 38% dos brasileiros com formação superior não são plenamente alfabetizados. Se ainda chegam a universidade pessoas que ainda não são letradas, como introduzi-las num pensamento reflexivo independente, sem que apenas reproduzam a ideia do professor? Acredito ser um grande desafio.

O que fazer se dentro do corpo de formadores há profissionais que não aceitam ser contestados, são donos da verdade, não têm uma postura reflexiva, de diálogo? Não são docentes reflexivos como propõe o texto? Como formadores não reflexivos podem conduzir os professores na construção reflexiva?

É uma cadeia, melhorando-se os formadores temos uma educação de qualidade como um todo.

Muitos avanços aconteceram na educação brasileira, mas ainda há muito por caminhar.